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Bésa-me Mucho...

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  Ma nuel Araújo da Cunha Nació en Rio Mau, pequeña aldea de pescadores, barqueros y mineros. Tierra de apicultura, de miel y de abejas, situada en la margen derecha del río Duero en el distrito de Porto, Portugal. Colaborador de la revista literaria “Correio do Porto” desde hace más de tres años, trabajos que firma como “Miradouro”. Obras completas del autor editadas en libros: • Contos do Douro (Cuentos del Duero) • Ouro Inteiro (Oro entero) • Ouro Lindo (Oro lindo) • A ninfa do Douro (La ninfa del Duero) • Palavras conversas com um rio (Palabras conversando con un río) • Fado Falado cronicas do Facebook (Crónicas de Fado Hablado de Facebook) • Barcos de papel (Barcos de papel) • Crónicas de outro mundo (Crónicas de otro mundo) m.araujodacunha@live.com.pt     BÉSAME, BÉSAME MUCHO Manuel Araújo da Cunha ©   Atravesé el río Duero en el barco  valboeiro  Zé Chasco. Aquel pedazo de madera —artísticamente trabajado por las manos de Ti Arnaldo, artífice de la construcción de estos navíos—

Estátua de Carne

Nasce em forma antropomórfica ligeiramente em bruto e o cinzel afeiçoa as reentrâncias do rosto e esculpe cavando delicadamente um olhar de mulher. Liberta-se uma mão que afeiçoa a peça numa saliência sentida nos dedos. São uns lábios finos que a punção desenha e uma boca nasce como uma flor. Com a polpa dos olhos acaricia a pedra e a mente dec alca o sentido da obra. Uns seios emergem do centro do nada e os bicos apontam planetas distantes. Uma mão amacia a lisura do ventre e define a estreita passagem da esfinge. A estátua estremece, parece ter vida. O brilho da Luz é monocromático, muito bem definido e até coerente. As ondas dos fótons que compõe o  feixe  propagam-se na escultura praticamente paralelas. É um raio de luz um clamor luminoso de Laser a despertar a pedra. Só a mecânica quântica pode explicar o efeito dessa maravilha. Mas bastam os dedos de umas mãos suaves e delicada dinâmica para que o clamor do ser inerte  se assemelhe a um gemido de fêmea humana, um grito colossal

Alquimia dos dias Frios

Às vezes tenho muitas saudades tuas. Não é sempre por causa das contradições diárias, dos atropelos do mundo ou dos muitos obstáculos que me aparecem no caminho, também por que te renego e tento arrancar-te de dentro de mim. É, quando me sinto como um barco amarrado a um cais algures no rio, prisioneiro e sem poder navegar, que me bate no coração a dor de te não ter, a fome de ti que me corrói sem piedade. Cheio de mágoas, vergo-me ao peso da falta que me fazes para conseguir ser feliz e, numa tentativa desesperada de te materializar, vou recordando os aprazíveis dias em que juravas sentir amor por mim. Acreditei em ti como se fosses a alma gémea por quem tinha esperado a vida inteira. Disse-te palavras proibidas no tempo em que o amor foi fermentado até crescer e transbordar por já não me caber no coração, mostrei-te o lugar do peito onde se guardam as relíquias sagradas do nosso mais profundo sentir e lá dentro construí um trono para ti. E vieram os dias frios, as noite

Solstício

Sentado na pedra à beira do rio, escrevo memórias de fantasmas vivos, de locais misteriosos carregados de história e de magia cercados por montanhas e três rios que surgem da milenar memória dos povos, de gente feita de carne, sonhos, ilusões, de terra e de água. De ventos que por aqui passam famintos a gemer loucuras eternas. De barcos a remos que se afundam nos ternos olhos dos pássaros, de árvores centenárias que cantam poemas abraçadas a mim ao amanhecer. Dos verdes e dos azuis com que se fabricam todas as fantasias, de crianças inocentes e puras que alegres, ensaiam pequenos e delicados voos a dois passos dos ninhos. De velhos de olhar meigo e doce plantados no chão bruto da taberna a engolir saudades medonhas, dos  rios que por aqui correm solitários e secam as pedras com lágrimas. De tudo, de nada, do provável, do improvável, das mãos que afagam com ternura os sem abrigo, dos rostos que contam verdadeiras e fantásticas histórias, dos cabelos que o vento agita e são apenas beijos

Dilúvio de Luz

Passas por mim já muito perto da foz. Banhado em lágrimas, contas-me as últimas histórias que viveste no longínquo Alto Douro. Falas-me de pessoas, de antigas praças de gentes de cujo o esforço heróico, fez nascer um outro mundo onde te espraiaste sonhador, de lugares maravilhosos que visitaste ao longo das fantásticas viagens que todos os dias em preendeste no decurso de  de milhões de anos que já viveste iluminando com as tuas águas, fomes seculares, escuridões territoriais a quem já nenhum de nós dá luz aceitando o desprezo e o esquecimento de um país inteiro, de inexpugnáveis rochedos, fraguedos medonhos rompidos com tenacidade e a imensurável força das tuas alucinadas águas, de montes, outeiros facetados pelas mãos do homem que, para te enfeitar, os corou de vinhedos, de localidades fantásticas que ajudaste a nascer atraindo pessoas de todas as partes do mundo que se lançam nas tuas correntes maravilhados, de reentrâncias trabalhadas com infinito amor e finíssimas rendas bordas e

Barco Velho

H AVIA um velho barco a boiar nas águas do rio escondido num recanto ao fundo das arribas de Várzea do Douro que se estendem florestadas e pedregosas até ao cais de Bitetos. Quase destruído, parecia um tronco de madeira a flutuar meio submerso com a água a bordejá-lo conforme a ondulação que o vento provocava. Tinha sido uma embarcação de pesca há muitos anos atrás e, decerto nas suas lembranças, haverá histórias de barqueiros, pescadores e de muita outra gente que nele navegou ao longo do rio Douro.  Suportou ocasiões de naufrágios iminentes, resistiu às fúrias de um rio turbulento, imenso de caudal e da cor do mais fino ouro. Muitas vezes empinado nas cristas das ondas, parecia uma leve pena de gaivota levada por correntes traiçoeiras que constantemente ameaçavam arremessá-lo de encontro às íngremes pedregosas margens. A tudo resistiu manobrado pelas firmes mãos de um barqueiro que lhe dedicava os arranjos necessários após terem abrandado as tormentas que lhe provocavam lesões u

Para Sempre

Sento-me na pedra à beira do rio e clamo aos ventos o teu nome. Sofro. Dói-me a aprazível paisagem que as minhas vistas alcançam, doem-me os barcos que passam aqui com e sem destino, doem-me as gaivotas que sobrevoam os teus olhos, doem-me as árvores, as casas, as pedras que seguram o céu, doem-me os cantos matinais das rolas, doem-me as flore s silvestres que enfeitam os caminhos da nossa aldeia, as violetas, os malquereres, as urzes, as papoilas das beiras das ruas onde tu passavas, dói-me a tua ausência nos círculos desenhados na água pelas mãos da primavera que te levou com ela, dói-me a vida toda no sopro dos ventos que te trazem nas mãos. Dormes amortalhado nas memórias do rio que te embalou, recolheste a casa, voltaste ao colo da nossa mãe. Que alegria deves ter sentido ao cruzar as ombreiras da porta da casa onde moram os anjos. Que música é essa que me chega aos ouvidos, parecem cânticos divinos ou será apenas o som da tua voz ausente a perguntar por mim.  Que lindo é es